O quanto esperar?

Benjamin Franklin, um dos principais expoentes da Revolução Americana, teria dito: “As três coisas mais difíceis do mundo são: guardar um segredo, perdoar uma ofensa e aproveitar o tempo”. O mundo corporativo parece ter se acostumado à ideia de que um líder decisivo é aquele que faz escolhas rapidamente, com segurança e de forma consistente. Normalmente, o termo procrastinar – adiar algo ou prolongar uma situação para ser resolvida depois – tem uma conotação negativa e é frequentemente utilizado para descrever atrasos excessivos.

 

A procrastinação se apresenta com muitos disfarces. O problema é que nossos cérebros estão programados para procrastinar. Isso porque é muito mais fácil processar o concreto ao invés do abstrato, concentrando esforços no imediatismo do curto prazo em detrimento das eventuais incertezas do longo prazo. O tempo necessário para tomar uma decisão adequada depende do seu significado, da disponibilidade de informações e do senso de urgência de quem decide. Ainda que se possa argumentar que esse prazo seja variável, líderes bem-sucedidos defendem que o processo decisório envolve sempre quatro importantes ações. São elas: a coleta de informações, a avaliação especializada, o julgamento e a priorização das opções disponíveis; e a decisão propriamente dita. Não obstante, parece legítimo questionar a existência de um “prazo razoável” de tempo para a tomada de decisões.

 

Os cientistas do CERN – Organização Europeia para a Pesquisa Nuclear, abordam o processo decisório de modo completamente diferente. Envolvidos em projetos absolutamente inéditos, esses cientistas “sabem exatamente o quanto não sabem”. Como resultado, eles muitas vezes atrasam suas decisões de maneira proposital porque sabem que, a cada novo dia são amealhados novos dados, novos erros, uma nova aprendizagem. E o grande desafio é distinguir até quando é possível esperar para saber o suficiente e tomar uma decisão acertada.

 

Em um ambiente em rápido movimento, muitas vezes a coisa mais inteligente a fazer é parar e assistir, tirar um tempo para absorver a incerteza, e aprender com ela. Uma boa noite de sono talvez não seja tão ruim quanto se imagina. Já dizia Leonardo da Vinci: “O tempo dura bastante para aqueles que sabem aproveita-lo”.

Prof. Dr. da FGV Andriei José Beber